quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Fluxos migratórios contemporâneos

As migrações internacionais nos últimos dois séculos podem ser divididas em pelo menos três fases distintas. A primeira delas, do século XIX até a Segunda Guerra Mundial; a segunda, de 1945 até o início dos anos 1970 e, a última fase, seria aquela que vem ocorrendo nos últimos trinta anos.A primeira fase teve como uma de suas características principais o fato de que a grande maioria dos imigrantes era originária do continente europeu. Cerca de 50 milhões de europeus deixaram o Velho Continente nesta fase. Essa intensa imigração teve como causa principal uma forte pressão populacional resultante da explosão demográfica pela qual os países do continente vinham passando desde meados do século XIX. É claro que a evolução dos meios de comunicação, especialmente aqueles relacionados à navegação transoceânica, em muito contribui para que esses fluxos acontecessem.Os imigrantes eram originários de toda a Europa, mas os britânicos, italianos, alemães, espanhóis, russos e portugueses se constituíram em mais de 80% do total. De maneira geral, eles se dirigiram para países “novos” como os EUA, que recebeu aproximadamente 33 milhões de imigrantes , a Argentina (6,4 milhões), o Canadá (5,2 milhões), o Brasil (4,4 milhões) e a Austrália (3 milhões). Juntaram-se a estes fluxos aqueles formados por europeus que se dirigiram para as colônias.Um pouco mais tarde o fluxo aumentou por conta dos asiáticos. Primeiramente os chineses e depois os japoneses imigraram para as terras do Novo Mundo. Por volta de 1880, a América do Norte recebeu cerca de meio milhão de asiáticos.O fluxo se modificou no período entre-guerras. Sua principal característica foi a diminuição numérica dos imigrantes, não só pelo alívio das pressões demográficas na Europa, como também pelas conseqüências da Primeira Guerra Mundial. Também contribuiu de forma decisiva a adoção, por parte da maioria dos países tradicionalmente receptores, de leis que restringiam a imigração, especialmente para aqueles que se dirigiam para os EUA. Por fim, a crise econômica desencadeada em 1929, contribui de forma significativa para a redução dos fluxos migratórios.Os fluxos migratórios da segunda fase (1945/70)Depois da Segunda Guerra, os fluxos migratórios mudaram radicalmente. A Europa com o fim do conflito, precisava promover sua reconstrução e, para isso, era necessário um tipo de mão-de-obra não-qualificada para desenvolver determinadas ocupações que um europeu “médio” não estava mais disposto a exercer. O continente europeu deixava de ser uma área essencialmente repulsora de população.A Europa recebeu nessa época cerca de 13 milhões de imigrantes . Os principais países receptores foram a ex- Alemanha Ocidental, a França, a Grã Bretanha, a Bélgica, a Suíça e a Holanda. Á guisa de comparação, no mesmo período, os EUA receberam quase 3 milhões de imigrantes a menos.A origem dos imigrantes também mudou. O Terceiro Mundo forneceu a maior parte dessas dos imigrantes. As razões de saída dos imigrantes estiveram ligadas, entre outros motivos, à pressão demográfica que esses países passaram a sofrer. A bacia do Mediterrâneo forneceu aproximadamente 8 milhões de imigrantes (magrebinos, turcos, iugoslavos) e, ainda que a imigração de italianos e espanhóis para países e regiões mais desenvolvidas da própria Europa tenha diminuído sensivelmente nos anos 1960, os movimentos migratórios que tinham como origem Portugal se prolongaram pela década seguinte..Os outros fluxos em direção ao continente europeu vieram da África.Já os imigrantes que se dirigiram aos EUA tinham como origem o Caribe, o México, a América do Sul e Central, além daqueles originários dos países do Oriente Médio, sul e sudeste asiáticos..Os fluxos migratórios da dos últimos trinta anosPor volta do meio da década de 1970, os fluxos migratórios denominados por alguns como “migrações de trabalho” diminuíram sensivelmente ou simplesmente estancaram em razão da crise econômica e do aumento do desemprego. A imigração clandestina passou a ser o componente maior das migrações que se dirigiam para a Europa e para os EUA.Em função do fechamento das destinações tradicionais, a imigração passou a se dirigir para países como a Itália, Espanha, Portugal e Grécia, aproveitando a entrada desses três últimos na Comunidade Européia. Esses países passaram a ter a função de “escala temporária” em direção aos países tradicionais de acolhimento como a Alemanha e França.Por outro lado, os choques do petróleo tiveram como efeito diversificar os fluxos, já que a “decolagem econômica” dos países produtores, como alguns do Golfo Pérsico, a Líbia, a Nigéria e Venezuela passaram a atrair imigrantes. Essa não foi uma migração durável e nem familiar já que em função de conjunturas econômicas desfavoráveis, muitos desses imigrantes foram obrigados a voltar a seus países de origem. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os imigrantes de Gana expulsos da Nigéria ou os da Tunísia que tiveram que deixar a Líbia.Cerca de 7 milhões de pessoas se dirigiram para países da região do Golfo Pérsico, sobretudo originários de países próximos dos produtores de petróleo, mas também da Ásia de Sul e Sudeste ( filipinos, indianos e paquistaneses).Atualmente, maioria dos imigrantes continua a se dirigir preferencialmente para os EUA e Europa. Em contrapartida, os países onde se originam os fluxos de saída são muito diversos. Um dos aspectos mais importantes dos recentes movimentos migratórios refere-se à composição da imigração. As leis restritivas, paradoxalmente, favoreceram a vinda legal de membros das famílias dos imigrantes já estabelecidos (mulheres e crianças) em detrimento de homens adultos que, por sua vez passaram a trilhar cada vez mais o caminho da imigração ilegal.Nas últimas décadas do século XX, a “imigração familiar” correspondeu a 55% dos imigrantes entrados na Suíça, 70% na França e 90% na Bélgica. A acolhida de refugiados fez seu número aumentar em função da multiplicação dos conflitos regionais. No total, os EUA acolheram 5,8 milhões de pessoas entre 1980 e 1990 e, sem dúvida, quase esse mesmo número somente entre 1990/95.As leis norte-americanas de 1980 e 1986 tentaram regularizar cerca de 4 milhões de imigrantes clandestinos. As quotas, revisadas periodicamente, são fixadas e privilegiam a chegada de mão-de-obra qualificada e diplomada. As admissões passaram a ser bastante seletivas e o imigrante do Terceiro Mundo pobre, sem formação e que não fala a língua do país que o acolhe, praticamente não tem chance de ser aceito. Dependendo do caso, o acolhimento só é possível para refugiados políticos, cuja importância numérica é cada vez maior.Novos fluxos migratóriosSegundo a ONU, em 1995, havia entre 120 e 130 milhões de pessoas vivendo fora de seu país, não sendo contados aí aqueles indivíduos classificados como refugiados. A última década do século XX conheceu uma diversificação das destinações. Os países mediterrâneos componentes da União Européia passaram à condição de terra de acolhimento de imigrantes. Ao mesmo tempo, os fluxos migratórios se acentuaram na Ásia de sudeste e leste.Novos fluxos migratórios ligados à abertura das fronteiras da Europa de Leste e da antiga URSS passaram a se dirigir especialmente para a Alemanha. Antes da queda do Muro de Berlim em 1989, existiam vivendo no Leste Europeu e Rússia, cerca de 4 milhões de alemães; desses, mais ou menos metade retornou ao solo da Alemanha unificada.A Alemanha também acolheu aproximadamente 1 milhão de refugiados das guerras que se verificaram no território da antiga Iugoslávia, fato que reforçou ainda mais a condição de principal país de acolhimento de imigrantes no continente europeu. Hoje, em território alemão, existem cerca de 6,5 milhões de estrangeiros, cerca de 1/3 do total de imigrantes acolhidos por todos os 15 membros da União Européia.Os fluxos migratórios ocasionados pelo fim do bloco comunista são ainda mal conhecidos, visto que o campo migratório continua aberto e amplo. Deve-se lembrar também que cerca de 1 milhão de judeus deixou a Rússia e dirigiu principalmente para Israel.As autoridades russas estimam que as trocas de população entre a Rússia e as ex-repúblicas que compunham a URSS envolveram no mínimo 10 milhões de pessoas. Fora isso, não se deve esquecer que existe algo em torno de 15 milhões de russos vivendo nas ex-repúblicas soviéticas.Entre 1991 e 2000, os fluxos migratórios mundiais em direção à Europa norte-ocidental devem ter sido da ordem de 15 milhões de pessoas, sendo que metade delas vindas do antigo bloco soviético e, o restante, originários do Magreb, África em geral e Ásia.

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